Pecuaristas brasileiros investem no leite A2, produto que pode ser mais fácil de digerir
A bebida já está sendo vendida no país por um preço até 3 vezes maior do que o leite tradicional, do tipo A1 que, segundo estudos, contém uma proteína que gera desconfortos como gases e sensação de barriga inchada.

Publicado 29/11/2020
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Pecuaristas brasileiros estão investindo na produção do leite A2, produto que pode ser mais fácil de digerir e que já tem sido vendido por um preço até três vezes maior do que o leite tradicional, do tipo A1.

A bebida A2 tem origem nas vacas com genes A2A2. Essas herdaram do pai e da mãe a capacidade de produzir uma proteína chamada beta-caseína A2, presente, por exemplo, no leite materno.

Já as vacas com genes A1A1 ou A1A2 produzem a beta-caseína A1 proteína que, de acordo com alguns estudos, libera uma substância que pode causar desconfortos, como gases e sensação de barriga inchada. Esse tipo de leite é o mais vendido no mercados.
Já a caseína 2 seria mais fácil de digerir. Por outro lado, a alergista Renata Cocco alerta que isso não significa que pessoas com alergia ou intolerância à lactose possam consumidor o A2.

“Os alérgicos, comprovadamente alérgicos, que ingerirem leite A2 podem ter reações que geralmente apresentam com outro leite qualquer. Por isso, está contraindicado para pacientes com alergia ao leite de vaca”, diz Renata.

Chegada ao Brasil
A primeira a faturar com o mercado de leite A2 foi uma empresa da Nova Zelândia. Em 2015, uma de suas patentes expirou, abrindo as portas para os concorrentes.

Enquanto não havia sido liberada, alguns produtores brasileiros já estavam se preparando, mandando amostras de sangue ou de pelos dos animais para laboratórios.

Um deles é o Eduardo Falcão, produtor de leite da fazenda Estância Silvânia, em Caçapava, São Paulo. Por lá, ele testou todo o gado e fez cruzamentos com touros selecionados durante 10 anos, com a ajuda de um especialista em genética da Embrapa Gado de Leite.

“A gente vê cada vez mais interessados na seleção intensa de animais que produzem esse tipo de leite (A2). Existem casos aqui no Brasil de produtores vendendo leite A2 a um preço cerca de 2 a 3 vezes maior do que ele obteria caso vendesse A1”, diz o zootecnista da Embrapa Gado de Leite, Marcos Vinícius da Silva.
Segundo ele, por outro lado, isso não deve ser motivo de preocupação para os produtores de leite A1. “[...] Sempre vai ter mercado para os dois. Na verdade, é simplesmente uma nova opção para determinados produtores”, acrescenta.

A maior do setor no Brasil
Já a Agrindus, maior produtora de leite A2 do Brasil, investiu, há alguns anos atrás, R$ 700 mil para testar todos os animais. A partir disso, todas as vacas A2A2 passaram a receber somente sêmen A2A2. Enquanto as outras viraram barriga de aluguel.

Com esse manejo, a frequência de A2 no rebanho tem aumentado. Das 1.800 vacas em lactação, menos da metade é A2A2. Mas quase todas as bezerras já estão nascendo com essa genética.

A Agrindus ocupa hoje 2 mil hectares do município paulista de Descalvado, e foi fundada há 75 anos por Roberto Jank.

E a nova geração da empresa tem apostado na divulgação do leite A2. Segundo Diana Jank, publicitária e diretora de marketing da Agrindus, quase R$ 2 milhões foram investidos no marketing dos produtos, retorno que deve vir em cinco anos.

“Nós usamos muitas redes sociais e formadores de opinião para explicar a genética da vaca da proteína de fácil digestão, que é a mesma proteína do leite materno. E também uma coisa que mudou muito no começo foi conversar direto com quem prescreve. Então, fomos falar com nutricionistas. E ajudou muito essa primeira alavancagem para as pessoas começarem a ter uma noção de A2”.

Venda de sêmens
Atualmente, há no país 20 propriedades que produzem leite A2, um total de 35 milhões de litros por ano. Isso ainda é menos de 1% da produção total de leite do Brasil. Mas o setor já está se movimentando para conquistar uma fatia maior do mercado.

E um dos pontos que facilita esse processo é a maior facilidade para comprar um sêmen de um touro A2.

“Hoje, a maioria das centrais de inseminação que comercializa as doses tem em seus catálogos, tem em redes sociais informações que aquele produto contém o gene A2A2. E isso faz com que o sêmen seja depois distribuído para brasil afora e exportado também”, diz o gerente operacional Central Bela Vista, Gerson Sanches.

Fonte: Globo Rural